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Archive for Setembro, 2011

Maravilhosa de amores

(poema-homenagem ao Rio de Janeiro)

Amo
E amo exagerado
Do alto de um corcovado
Desse pão açucarado
Esse convite aberto
Às suas maravilhas
Esse encanto certo
Por todas as suas trilhas
Que revelam tua silhueta
Em raio ultravioleta
Tão gostosa e esbelta
Num vôo da asa delta
Que pousa e decreta
A inspiração de um poeta

Amo
E amo loucamente
Tua face mais simples
Essa cara tão sorridente
Revelada em tua gente
Que escancara satisfação
Nesse bom humor eterno
Passa Inverno
Segue verão
Filhos de especial mistura
Nesse bronzeado que não se pensara
Misto dessa derme escura
Mescla pela pele clara
Mitos de beleza pura
Entes de beleza rara

Amo
Com o coração em festa
Essa tua proposta
De se fazer salgada encosta
De se brotar floresta
Ninada no colo do mar
De se assumir montanha
Altiva e manifesta
Que se assanha nos lábios da praia
Que comanda as marés
Como a Deusa Maia
Com Poiseidon a seus pés

Amo
Com esse amor-simpatia
Sua cronologia de Gaia
Do paraíso indígena
Da tanga à minissaia
Nesse urbano paraíso
Nesse sacro santo piso
De capital da beleza
Do reino tupiniquim
Entre cimento e natureza
Do solo botânico, o jardim
Os boulevares floridos
O Theatro, a Biblioteca
As santas das Candelárias
As praças com seu fascínio
E a arquitetura tão vária
De ocas e condomínios

Amo
E como não amar?
Teus cheiros de olor infinito
Os teus perfumes benditos
De grama cortada no Aterro
Da vista de suas Chinas
De silvestre na Boavista
De fogos do reveillon
Aquele torpor de narinas
De frango de padaria
Das feijoadas nas quadras
E arrebóis com sua maresia

Amo
Impossível de não amar
Tuas vozes chiadas
Nas suas canções encantadas
Da Viola e Cavaquinho
Cartolas em todos os Tons
Todos os soluços de um chorinho
Todos os outrossins
Dos Pizindins
Todos os Bens
De um Pagodinho
Dos Liras, das Laras
Dos Kétis, das Naras
Das raízes de Mangueiras
De Nogueiras
De Carvalhos
Das Rosas
Das Vilas
E do alto das favelas
E do asfalto
E nessa ciranda,
Quiçá que seja de Holanda

Amo sem preconceitos
Tua famosa acolhida
Tua forma de dar boas-vindas
A gente de outro lugar
Esse braço estendido
Essa conversa macia
Essa sua democracia
Saudada em seu pavilhão
Um Cristóvão sadio e são
Com sotaques variados
Quadros de outras tintas
Colorindo muito mais
Que se espalham nas quintas
Nos passeios imperiais

Amo ver a rede estufando
O Mário Filho vibrando
Com o João Havelange
Nesses templos da bola
Em que ninguém se constrange
A vibração nunca falta
Na estrela de malta
Na cruz solitária
E na festa solidária
De um urubu tricolor
Comemorando desde ontem
Até pra lá de amanhã
Pois cada torcedor
É seu próprio Maracanã

Amo
Num amor abençoado
A salada de fé
A oração poderosa
De um pastor candomblé
A vela que acende um pedido
Pedido que seca a lágrima
Lágrima que verte a água
A água que faz a hóstia
Que serve de simpatia
Que toma a sorte por guia
E lança mais uma jura
E o milagre assegura
Já que perdão é de graça
E todo pecado tem cura

Amo embevecido
Esses lugares
De alegria tão menina
Chamados de bares de esquina
Da turma que chega com sede
E pede amizade gelada
Ao garçom do Humaitá
Dá um gole em Realengo
E sai por aí e por lá
Que bebe em Laranjeiras
E brinda a todos os fins
Na mesa de Cascadura
Que pede a conta no Lins
E lá na Penha pendura

Amo com singeleza
Os domingos na laje
Que nascem nas sextas-feiras
Molhados pelas mangueiras
Com sombras de zinco e telha
Vizinhos sentados no chão
E carne assando na grelha
Com sal grosso, paz e carvão

Amo
Com a ginga de muitos amores
O sapato duas cores
Do sambista de velha guarda
Que cobre sua pele parda
Na elegância inegável
De um tecido impecável
Na simples postura taful
Que passa cera na palha
Que firma o seu nobre chapéu
E ri pro céu azul
Nem sempre azul, mas sempre céu

Amo
E amo bem informado
Os jornais pendurados
A emprestar suas manchetes
Aos olhos dos advogados
Dos ciclistas, senhoras, porteiros
Contínuos e engenheiros
Das estudantes
Dos camelôs
Das titias e dos vovôs
De todo povo passante
Que se informa nesse durante

Amo teus carnavais africanos
De Egitos, greco-romanos
Que te fazem Maravilhosa
No branco-azul-verde-rosa

Amo a cuíca sorrindo
Para o rodopio infindo
Para o sonho sem fim
Da porta-bandeira mirim

Amo o trabalho presente
No corre-corre silente
Sem lugar nem hora
Dos garis noite afora

Amo a sombra diagonal
Que os postes produzem à toa
E nos dias de sol visceral
Abrigam qualquer pessoa

Amo a piada de si mesmo
Moldada pelo improviso
Surgida do fato a esmo
Pelo bem de um novo sorriso

Amo o dorso da Garça
Refletido no sereno rasante
Que a baía não disfarça
E revela exuberante

Amo sem nenhuma censura
Esse amor que nunca para
Amo a ti, criatura
Que em mim cria tara

Amo a ti, Cidade Maravilhosa
Cidade monumento
Amo cada movimento
Dessa vida em polvorosa
Amo e amo deveras
Tuas belezas sinceras
Tua alegria indiscreta
Amo-te toda prosa
Nos versos desse poeta
Amo-te como quem não quer nada
Só pra te saber amada
Amo-te chique, amo-te rota
Amo-te em paz, amo-te em luz
Amo-te garota
Que sai de Santa Cruz
E balança em Ipanema
Amo-te até um dia
Eternizar-te em poema

Sérgio Gramático Júnior

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Seu Antunes e Dona Mathilde são responsáveis por trazerem craques ao mundo. O casal mais famoso de Quintino Bocaiúva, subúrbio da Cidade Maravilhosa, gerou, educou e preparou para a vida, seus seis filhos, que se destacaram em seus ofícios de forma expressiva.

Certamente fruto da educação e da transmissão de valores recebidos em casa, Zezé, Zeca, Nando, Edu, Tunico e Zico contribuíram muito para tornar nossa sociedade melhor.

O que todos sabem é que o caçula, Zico, se tornou grande ídolo de massas, responsável pela alegria cotidiana de milhões de pessoas, graças ao talento gigantesco para jogar futebol. O que alguns sabem é que os irmãos dele, Edu, grande craque artilheiro do campeonato brasileiro de 1968 e Zeca (mais conhecido como Antunes), também foram bambas com a pelota nos pés.

O que pouca gente sabe, mas todos devem saber, é que as adversidades enfrentadas pela família toda, diante do regime militar, foram enormes. Zezé, professora, teve que partir para casa de amigos em Nova Iguaçu, para não ser presa e sofrer os horrores da tortura. Nando, que seguia os passos de Zezé na educação, chegou também a jogar futebol profissionalmente, mas desde cedo foi perseguido, sendo obrigado a abreviar sua carreira. E até Edu teve convocações para a seleção sabotadas por ser da família.

Um pouco dessa história tão digna é contada no livro “Futebol e Ditadura. A história de Nando, o primeiro jogador anistiado do Brasil”, produzido pelo centro cultural do Ceará Sporting Club (grande iniciativa, bom que se registre). Pena que a obra não tenha chegado às prateleiras da região sudeste e eu mesmo só consegui ter acesso por ser presenteado com um exemplar pela professora Zezé, minha amiga (amiga por um privilégio que o destino me concedeu).

“Futebol e Ditadura” dá uma mínima dimensão dessa exemplar história dos filhos do Seu Antunes e da Dona Mathilde, mas vai além. Acrescenta ainda um pedacinho da história da prima deles, Cecília, cassada, torturada e por fim vitoriosa, hoje presidente do grupo humanitário “Tortura Nunca Mais”.

Quem puder ter acesso ao livro, adquira. É um documento importante e rico em informações sobre o nosso país e seu período de trevas. Palmas demoradas pela iniciativa à diretoria do Ceará.

Mas, voltando à família Antunes Coimbra, que tanto fez pela sociedade, suportando pressões enormes e superando obstáculos monstruosos, finalizo com minha opinião: eles merecem demais um registro exclusivo. Seja em livro, seja em vídeo, um registro que resgate e preserve sua história cativante e bela, coisa de gente que melhora a sociedade.

Sérgio Gramático Jr.

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Destino de Sofia

 

A Sofia vai ser uma flor

Enfeitar os olhares de risos

Exalar o aroma da vida

Convidar colibris para um lanche

com direito a pólen encantado

Vai fazer mais jardim nossas almas

E da gente ganhar mais cuidados

 

A Sofia vai ser uma brisa

Passear entre as lidas dos anjos

Visitar os cantinhos da Terra

Vai soprar um alívio gostoso

no rosto dos sonhadores

Espalhar o odor dos campos

nas narinas dos distraídos

Vagar leve nos ares, nos mares

nos nossos mais doces pensamentos

 

A Sofia vai ser uma ave

Voar quantos céus existirem

Conversar assuntos do vento

Cantar melodias sensíveis

pra adormecer nossos medos

Deixar mais belo esse mundo

no rastro de suas asas

 

A Sofia vai ser uma santa

canonizada em vida

A Sofia vai ser bailarina

dançando contra a injustiça

A Sofia vai ser cientista

solucionar todas as misérias

 

A Sofia vai ser astronauta

A Sofia vai ser borboleta

A Sofia vai ser tempestade

Estudiosa, espoleta, atrevida

gentil, manhosa, caseira

atleta, quietinha, espontânea

inventiva, artista, amuada

zangada, médica, educada

desenhista, humorada, tímida

política, andarilha, serena

teimosa, insegura, contida

amiga, explosiva, travessa

Vai ser uma estrela

uma prece

um poema

um  amor de menina

 

Até o dia em que mirar

o fundo dos meus olhos vividos

com seu olhar lindo infinito

e dizer:

“Pai, eu quero ser o que eu quiser”

 

E eu vou ser tão feliz

por ela ser minha Sofia

 

Sérgio Gramático Júnior

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Domingo carioca

Domingo carioca

Domingo carioca

Domingo carioca tem que ter gente comprando frango de padaria pra comer com macarrão à bolonhesa. Tem que ter pelada em gramado de parque com trave de graveto e times divididos entre os com e sem camisa. Tem que ter vendedor daqueles bolões coloridos, carregados nas costas, dentro de uma rede. Tem que ter uma parada para conferir as manchetes de jornal pendurado nas bancas. Tem que ter um projeto matinal de onde será assistido o jogo das quatro da tarde. Tem que ter a certeza de que se você não está de ressaca, alguma grande amizade sua está. Tem que ter uma música que te eleve o astral, nem que seja o som alto do vizinho. Tem que ter tempo pra dormir mais do que o normal. Tem que ter olhar de ócio para a copa das árvores (elas precisam disso). Tem que ter o desejo de sol, mesmo que você não vá à praia, pois a Maravilhosa se alimenta de bronzeados. Tem que ter uma roda de samba improvisada com gente de pele preta em algum bar. E tem que ter o descompromisso para cariocarrrr livremente com seus erres guturais no final dos verbos e seus esses chiantes no final doch pluraich.

Sérgio Gramático Jr.

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Creio fervorosamente não ser muito difícil, nem custoso, mantermos limpas as praias da Maravilhosa. Medidas simples e baratas, que colaborariam inclusive para conscientização da população, bem que poderiam ser adotadas pela administração pública.

Tenho cá uma idéia para sugerir. A cada cem metros, em toda orla carioca, recipientes com sacos de papel reciclados acondicionados e de livre uso para os banhistas. A madame, o marombado, a turma da farofa, a gatinha, o vendedor com galão de mate/limão, a criançada, as senhorinhas, todos passando e pegando seus sacos de papel e levando para a areia.

Na parte externa do saco de papel, mensagens de conscientização, estimulando o respeito à cidade. Na parte interna dos sacos, todo o resto de consumo dos banhistas. Na areia, nada, nem um palitinho de picolé, nem a garrafinha de laranja com cenoura.

Fim de praia, bronze merecido, lixo guardado nos sacos de papel reciclado e devidamente depositado nas latas largas instaladas na areia. Facilita pra rapaziada da Comlurb, respeita a Maravilhosa e prepara as próximas gerações com esses hábitos sadios.

E nem vou usar o argumento que vai ser bom mostrar aos turistas como somos educados. Afinal, temos antes é que mostrar a nós mesmos.

Sérgio Gramático Jr.

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